Carta de Francisco de Assis aos governantes dos povos
Quase
no final de sua vida, Francisco de Assis escreveu uma carta aberta aos
governantes dos povos, mas ainda hoje esta carta está bem atual e
poderia ser enviada aos novos governantes:
“A
todos os chefes de Estado e aos portadores de poder neste mundo, eu
Frei Francisco de Assis, vosso pequenino e humilde servo, lhes desejo
Paz e Bem.
Escrevo-vos esta mensagem com o coração na mão e com os olhos voltados ao Alto em forma de súplica.
Ouço,
vindo de todos os lados, dois clamores que sobem até ao céu. Um, é o
brado da Mãe Terra terrivelmente devastada. E o outro, é a queixa
lancinante dos milhões e milhões de nossos irmãos e irmãs, famintos,
doentes e excluídos, os seres mais ameaçados da criação.
É um clamor da injustiça ecológica e da injustiça social que implora urgentemente ser escutado.
Meus
irmãos e irmãs constituídos em poder: em nome daquele que se anunciou
como o “soberano amante da vida”(Sabedoria 11,26) vos suplico: façamos
uma aliança global em prol da Terra e da vida.
Temos
pouco tempo e falta-nos sabedoria. A roda do aquecimento global do
Planeta está girando e não podemos mais pará-la. Mas podemos
diminuir-lhe a velocidade e impedir seus efeitos catastróficos.
Não
queremos que a nossa Mãe Terra, para salvar outras vidas ameaçadas por
nós, se veja obrigada a nos excluir de seu próprio corpo e da comunidade
dos viventes.
Por
tempo demasiado nos comportamos como um Satã, explorando e devastando
os ecossistemas, quando nossa vocação é sermos o Anjo Bom, o Cuidador e o
Guardião de tudo o que existe e vive.
Por
isso, meus senhores e minhas senhoras, aconselho-vos firmemente que
penseis não somente no desenvolvimento sustentável de vossas regiões.
Mas que penseis no planeta Terra como um todo, a única Casa Comum que
possuímos para morar, para que ela continue a ter vitalidade e
integridade e preserve as condições para a nossa existência e para a de
toda a comunidade terrenal.
A
tecno-ciência que ajudou a destruir, pode nos ajudar a resgatar. E será
salvadora se a razão vier acompanhada de sensibilidade, de coração, de
compaixão e de reverência.
Advirto-vos,
humildemente, meus irmãos e irmãs, que se não fizerdes esta aliança
sagrada de cuidado e de irmandade universal deveis prestar contas diante
do tribunal da humanidade e enfrentar o Juízo do Senhor da história.
Queremos
que nosso tempo seja lembrado como um tempo de responsabilidade
coletiva e de cuidado amoroso para com a Mãe Terra e para com toda a
vida.
Por
fim, irmãos e irmãs, modeladores e modeladoras de nosso futuro comum:
recordeis que a Terra não nos pertence. Nós pertencemos a ela pois nos
gestou e gerou como filhos e filhas queridos. Custo aceitar que depois
de tantos milhões e milhões de anos sobre esse planeta esplendoroso,
tenhamos que ser expulsos dele.
Pela
iluminação que me vem do Alto, pressinto que não estamos diante de uma
tragédia cujo fim é desastroso. Estamos dentro de uma crise que nos
acrisolará, nos purificará e nos fará melhores. A vida é chamada à vida.
Nascidos do pó das estrelas, o Senhor do universo nos criou para
brilharmos e cantarmos a beleza, a majestade e a grandeza da Criação que
é o espaço do Espírito e o templo da Santíssima Trindade, do Pai, do
Filho e do Espírito Santo.
Se
observardes tudo isso que Deus me inspirou para vos comunicar em breves
palavras, garanto-vos que a Terra voltará novamente a ser o Jardim do
Éden e nós os seus dedicados jardineiros e cuidadores.”
Assinado
Francisco de Assis.
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